Protestos reacenderam debate sobre a brutalidade policial e as vidas negras ameaçadas ao redor do mundo.

O movimento antirracista #BlackLivesMatter, ou Vidas Negras Importam, ganhou visibilidade no último mês após a morte de George Floyd, ex-segurança negro de 46 anos. Derek Chauvin, policial branco, pressionou o pescoço de Floyd contra o chão durante oito minutos e 46 segundos. Minutos antes, Floyd havia sido acusado de tentar comprar cigarros com uma nota falsa. O fato suscitou protestos e reacendeu o debate sobre a brutalidade policial e as vidas negras ameaçadas ao redor do mundo. 

#BlackLivesMatter

Alicia Garza, Patrisse Cullors, and Opal Tometi são as ativistas que deram início, em 2013, ao movimento #BlackLivesMatter nos Estados Unidos. Em resposta à absolvição do vigia que matou Trayvon Martin, jovem negro de 17 anos que voltava para casa após comprar doces, o movimento surgiu como forma de repúdio às recorrentes mortes de pessoas negras por parte de policiais. 

Em 2014, Michael Brown (18) e Eric Garner (43), ambos negros e desarmados, também foram brutalmente assassinados por policiais. O Black Lives Matter, então, tornou-se uma organização global cuja missão é “erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras pelo Estado e vigilantes”.

Dos EUA para o mundo

Desde a morte de George Floyd, milhares de manifestantes foram às ruas de diferentes cidades do globo exigindo o fim do racismo e da brutalidade policial. Abaixo, você confere um apanhado dos principais protestos desde o dia 25 de maio de 2020. 

“As mães negras não aguentam mais chorar”

Os protestos #BlackLivesMatter surgiram nos Estados Unidos, mas também poderiam ter tido origem no Brasil, país que tem os maiores índices de mortes por policiais no mundo. Em 2019, as 5.804 mortes por policiais representaram mais de 10% dos homicídios no país. Os dados são do Monitor da Violência, mantido pelo portal G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

Os dados revelados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro também assustam. Cerca de 80,3% dos 885 mortos em ações policiais no primeiro semestre de 2019 no Rio de Janeiro eram negros ou pardos. Em marcha Vidas Negras Importam no Rio de Janeiro, vidas de brasileiros assassinados por policiais também foram lembradas. 

O caso recente do jovem João Pedro Mattos Pinto (14), morto dentro de casa durante uma operação policial, foi um dos motivadores da marcha. O cartaz “As mães negras não aguentam mais chorar”, presente na manifestação, escancara o genocídio de jovens negros no país. 

Os dados falam por si só. A população negra segue ameaçada mundo afora. Os gritos abafados por séculos de desigualdade, morte e segregação ganham volume com os protestos. Porém, para que as mudanças ocorram e os dados se alterem, a força-tarefa deve ser intensa. Os brancos devem participar ativamente da luta para desconstruir o horror criado ao longo dos anos e, principalmente, para retirar a culpa carregada nos ombros pela população negra.

Impacto cultural

“Vidas Negras Importam”, “Eu sou o próximo?”, “Eu não consigo respirar!”, “Sem justiça, sem paz” e “Parem de matar pessoas negras” são algumas das frases que estampam os cartazes nas manifestações. Porém, além dos protestos em ruas do mundo todo, o movimento também ganhou a internet e mobilizou diversas empresas.

O #blackouttuesday, ou terça-feira do apagão, foi uma ação coletiva da indústria da música que consistiu em postar uma foto preta no Instagram como protesto contra o racismo e a brutalidade policial. Milhares de pessoas aderiram ao movimento postando a foto com a hashtag.

Algumas plataformas de streaming, como Spotify, Netflix e Amazon adicionaram listas contendo apenas produções de artistas negros. Já a HBO, que havia retirado de seu catálogo o filme “E o Vento Levou”, por conter preconceitos étnicos e raciais, voltou a disponibilizar a obra com um vídeo introdutório contextualizando-o.

Após o início dos protestos, alguns livros sobre racismo viraram best-sellers no Brasil e no mundo. No Brasil, a lista de mais vendidos da revista Veja conta com pelo menos cinco livros sobre a temática. Entre eles, estão “Pequeno Manual Antirracista” e “Quem tem medo do feminismo negro?”, ambos da filósofa e escritora brasileira, Djamila Ribeiro.

Lugar de fala

Gabriela, Tiago, Bernardo e Rayssa falam sobre suas ocupações, importância do movimento #Blacklivesmatter e deixam algumas dicas de consumo no âmbito cultural.

Texto: Sara Fontana, jornalista
Foto inicial: Nicole Baster