Imersos no que talvez seja a fase mais surpreendente da história da humanidade, estamos aprendendo a lidar com uma série de novas ferramentas. Aparatos de comunicação, criações e compartilhamentos. O futuro é agora e precisa de atenção. Os avanços tecnológicos, além de permitirem novas formas de interação humana, também exigem a solução de problemas decorrentes de sua utilização. As fake news, ou notícias falsas, talvez estejam entre os principais e mais comentados inconvenientes cibernéticos. Porém, os mais recentes deepfakes também já fazem parte do glossário tecnológico. Fake news e deepfakes, portanto, estão entre os desafios do século XXI.

Popularizadas a partir das eleições americanas de 2016, as fake news apropriam-se do aparato jornalístico para disseminar fatos falsos ou descontextualizados. Geralmente, surgem em sites desconhecidos e propagam-se pelas redes sociais. De perfil em perfil, de grupo em grupo, agem como uma praga que ameaça plantações e, nesse caso, democracias.

Um estudo realizado pela Universidade de Oxford em 2019 aponta que informações falsas e sensacionalistas geram maior engajamento no Facebook. Feita a partir da análise da divulgação de conteúdos em redes sociais durante as eleições do Parlamento Europeu, a pesquisa indicou que as fake news tiveram até quatro vezes mais curtidas e abordavam temas populistas como anti-imigração e fobia contra grupos islâmicos. 

Coronavírus e fake news

Em 2018, ano de eleições no Brasil, as notícias falsas pipocaram nas redes sociais para favorecer e prejudicar candidatos. Hoje, abril de 2020, as fake news, além de seguirem no âmbito político, também têm abordado um novo e delicado assunto. A pandemia do novo coronavírus está fazendo com que veículos de comunicação, órgãos públicos e estudiosos de todo o país se unam contra a desinformação. 

“Café previne o coronavírus”, “Beber água de 15 em 15 minutos cura o coronavírus” e “Coronavírus morre a 26 graus” são apenas alguns dos títulos mentirosos que circulam pelas redes sociais em tempos de pandemia. Pensando nisso, o Ministério da Saúde criou um serviço de informações via WhatsApp para esclarecer dúvidas, dar recomendações e desmentir fake news. Para se comunicar com o bot, um tipo de robô treinado para responder as mensagens recebidas no aplicativo, basta enviar uma mensagem para o número (61) 9938-0031.

Algumas agências se dedicam exclusivamente ao fact-checking ou, traduzindo, à verificação de fatos. Agência Lupa e Aos Fatos são os principais portais do ramo no Brasil, fazendo um trabalho minucioso de investigação e checagem de informações. Indo pelo mesmo caminho, recentemente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou que 73,7% das informações falsas sobre o novo coronavírus circularam pelo WhatsApp. Destas, 71,4% citam a Fundação como fonte. Para permitir que usuários denunciem fake news e conteúdos que violem os direitos das crianças e adolescentes, Claudia Galhardi, pesquisadora da Fiocruz, desenvolveu o aplicativo Eu Fiscalizo, disponível na Play Store. 

Também pensando em minimizar os efeitos das fake news, o Facebook anunciou que passará a notificar usuários que interagiram com informações falsas a respeito da covid-19. Ao curtirem, compartilharem, comentarem ou postarem conteúdo que possa ser prejudicial, os usuários receberão uma notificação com um link direcionando ao site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Deepfake

Mas nem só de textos vive o mundo fake. Menos comentados, porém em ascensão, os deepfakes fazem com que as fake news ganhem novas proporções. Com mecanismos de Inteligência Artificial, criam vídeos falsos utilizando, geralmente, rostos de pessoas famosas. No Brasil, o jornalista Bruno Sartori ficou conhecido por fazer diversas sátiras utilizando softwares de deep learning, que permitem o surgimento dos deepfakes.

O humor trazido por Bruno é, no entanto, a melhor parte desta tecnologia.  Infelizmente, a utilização de deepfakes para espalhar informações falsas e vídeos de sexo fictício, utilizando rostos de famosos, também é uma realidade. Pensando nisso, o Google lançou uma base de dados com cerca de 3 mil cenas para auxiliar na identificação de deepfakes. As imagens serão utilizadas para treinar as ferramentas de detecção de vídeos manipulados e, assim, reduzir o potencial de danos e abusos da Inteligência Artificial. O projeto se chama FaceForensics e a base de dados pode ser baixada pelo GitHub.

O futuro é agora

Sim, aqui está o futuro. Não tão parecido com aquele dos carros voadores, como vimos em “De Volta para o Futuro”, mas talvez mais próximo da distopia de Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo”, onde o progresso científico e tecnológico afeta diretamente os seres humanos.

Nossa relação com as fake news e os deepfakes, portanto, pode alterar o curso da sociedade. Para que o estrago não seja tão grande é necessário que as tecnologias estejam a favor da verdade, permitindo o exercício da democracia e o bem-estar social.

Para isso, preparamos um pequeno guia para identificação de fake news e deepfakes:

Dicas para identificar fake news e deep fake, que estão entre os desafios do século XXI.

Sara Fontana- Jornalista

Leia também:
A Verdade nos Libertará